Já se perdeu a tradição da reunião de família e empregados à volta da lareira, sentados nos mochos, dividindo as tarefas do dia seguinte, contando histórias, ou, cantando, o seu encanto rústico ainda se mantém.
Nas pequenas fazendas, como nas grandes herdades " o monte" é a casa dos patrões ou dos rendeiros, e nele se abrigam também algumas famílias que constituem a corte rural.
Nas grandes herdades ,o monte é quase uma aldeia. Ao grande edifício central vieram juntar-se,um pouco arbitrariamente, os casões para o gado,as quadras, a casa do pateiro, a rouparia, os fornos de cozer pão , os alpendres para os carros, etc.
Mas embora aparentemente tudo isto se erguesse por além um pouco a esmo, cuidou-se sempre que as construções ficassem em 2 linhas que se defrontam e que formam o que em geral se chama " a rua do monte".
O monte é o centro do trabalho do campo.
O Monte Alentejano, coração da antiga lavoura, hoje apenas decorativo e evocador, no silêncio eloquente das suas alvas paredes, encontra-se quase desabitado já que o lavrador o abandonou.
À volta dele erguiam-se outras construções:
-A Capela-simples e modesta, com uma ou duas imagens no interior, o altar bem limpo e decorado com bonitas e valiosas rendas. Celebrada a missa, era da praxe o Prior almoçar com os donos da casa, benzendo a mesa antes e depois das refeições.
-A Casa do Guarda- semelhante a qualquer habitação da aldeia e onde este vivia com a mulher e os filhos
-A Quadra ou Cavalariça- casão grande e arejado, com piso calcetado e em cuja parede fronteira se localiza a importante manjedoura, mesa sempre posta com palha e feno , e onde os animais pernoitavam. Junto deles, dormia o «mulateiro», numa esteira ou tarimba e era ele quem à noite lhesw dava a ração e tinha por missão proceder à limpesa do estábulo.
-O Palheiro- recheado de palha, como o nome indica, que dali era tirada com «forquilhas» para fazer a cama das bestas e lhes encher a barriga
-A Vacaria- semelhante à quadra ou cavalariça, dela só diferindo por em vez de ser habitada por burros, mulas e éguas, se encontrar povoada de excelentes vacas leiteiras.
-A Capoeira- rodeada de redes com desenhos hexagonais, onde ,à noite recolhiam os «bicos» procurando no equilibrio do poleiro, o retemperar das forças para que no dia seguinte, muitos ovos aparecessem no local habitual, onde a lavradora os ia diariamente buscar. Aqui pernoitavam os bonitos galos, de alegre e garrida plumagem e voz de clarinete, que cumpriam escrupulosamente a sua missão diária de cantar ao amanhecer.
-O Ovil -de telhados baixos, onde só algumas ovelhas «afilhadas» e borregos passavam a noite, que a maioria dormia nas pastagens.
A Malhada-«casa de habitação» de porcas «paridas» e leitões que não podiam acompanhar as «varas» que livremente se alimentavam no «montado».
-A Queijaria- que as mulheres primeiro caiavam muito bem, tiravam as pigas do chão,esfregavam as «ferradas» e «azadas», limpavam a banca, as latas para o requeijão e as cintas onde eram fabricados os queijos. Também era arranjada a «caniçada» onde o queijo fresco seria colocado aq «curar». Chamava-se «roupeiro» ao homem que fazia este delicioso conduto.
-O Lagar-apenas existente nas propriedades onde havia grande «ramo» de olival que justificasse a sua laboração.
-A Amassaria- casa ampla, cimentada ou calcetada, onde o pão era amassado, uma ou duas vezes por semana, conforme a quantidade de pessoal e os costumes que imperavam nas redondezas. O amassador ou a amassadeira, deixava sempre uma porção de massa de cada amassadura e que seria o fermento da seguinte
-O Forno- construido com tijolo «burro» tinha uma porta de ferro e servia para assar os borregos e os leitões e para coser o pão, que era para lá metido e de lá tirado com umas pás de madeira, com um cabo muito comprido.
-A Cozinha dos Ganhões-com grandes mesas rectangulares, algumas com tampo de mármore e com compridos bancos da mesma forma, onde a ganharia tomava as refeições e perto da quaal se situava a dependência que lhe servia de quarto.
-A Casa da Malta ou Gasalho-de paredes por rebocar e cheias de teias de aranha. Era aqui que descansavam os «sem eira nem beira» de quam o lavrador se compadecia. Tinha no chão umas esteiras e uns fardos de palha, tapados com mantas velhas ou sacos de azeitona e que servia de cama.
Nas lavouras mais importantes ainda existia a carpintaria ou abegoaria, onde o carpinteiro ou o abegão fazia e restaurava as carroças., carros e carretas e, a oficina de ferreiro, casa terrea, com uma forja.
-Os Ganhões- criados eventuais que desempenhavam os trabalhos mnais dificeis e que eram os ultimos da hierarquia campesina. Ganhavam mal.
-O Feitor- que era quem mais de perto contactava com o patrão e transmitia as ordens deste a toda a criadagem.
-O Cozinheiro- encarregado da confecção dos alimentos para todo o pessoal
-O Maioral-moural - como diz o povo, encarregado geral de todos os rebanhos. Nalguns locais chamam-lhe «rabadão»
-Os Ganadeiros- cada um com o seu nome proprio consoante o gado que guardavam.
(do Livro:-Motivos Alentejanos de João Ribeirinho Leal)
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