segunda-feira, 11 de novembro de 2013

ELXADAI PARQUE

                                                  

                               

O Elxadai Parque é um pequeno paraiso que se descobre na planicie alentejana.
Pintada de branco a sua arquitectura respeita com rigor as caracteristicas da construção alentejana. e confunde-se com uma herdade tipica deesra região sul do país. Alheio ao ritmo urbano, este compklexo turistico ,reune  tranquilidade e uma proximidade estreita com povoações, das mais belas de Portugal.


Elvas, ali ao lado, cercada por muralhas e vigiada pelo castelo, rica em história, chama a si caçadores, pescadores, praticantes de hipismo e desportos náuticos.
Para além desta cidade vizinha de Badajoz, vários são os itenerários que o Elxadai propõe. num espaço de 90 Km, há que experimentar as termas de Castelo de Vide, conhecer os monumentos de Marvão e Portalegre e parar, demoradamente, em Évora, numa descoberta plena das suas ruas e das razões que fizeram dela Cidade-Museu e Património da Humanidade. Daqui para Vila Viçosa, com Palácio Ducal, para os mármores de Extremoz e para a confeção dos tapetes de Arraiolos, é um instante.


Complexo situado a 3 km de Elvas e a pouco mais de 1 h e 30m de Lisboa, pela nova A 6, beneficia de magnifica vista sobre Badajoz e Olivença.
(Extraído da Revista do Jornal Público de 22 Julho de 2000)

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

AS DEBULHAS


                                                        





AS DEBULHAS

Após a ceifa, tinha lugar o «acarreto», transp
orte dos molhos e paveiras, em carroças,carretas e carros de parelha até à eira - local com piso duro, de terra batida ou cimentada, situado em sitio alto,para ser arejado pelo vento e, onde o «género» era debulhado.
À volta da eira construiam-se enormes «almearas», «almenaras», «rilheiros» ou «rolheiros», aí se aglomerando o cereal a ser debulhado.
Antigamente era a debulha feita no «calcadouro», dispondo-se as espigas circularmente no chão e sendo pisadas pelo animais, em centenas de passagens sobre elas.
Depois o cereal era limpo com a pá, com a ajuda imprescindível do vento.
Mais tarde passou a debulha a ser feita pelas máquinas fixas, movidas de eira em eira por potentes e arcaicas «locomóveis» e «caminheiras».
Ao passarem por aldeias, vilas e povo0ados eram as máquinas alvo da curiosidade de todos os habitantes.


Voltando às  debulhas, mal a máquina chegava à eira, logo se iniciavam os preparativos para que desempenlhasse o melhor possivel a missão que ali a trouxera. Depois de colocada no local onde devia fazer a campanha, nela subia o maquinista, olhando para baixo, para os ganhões que não tiravam os olhos dele.
Depois, aproximava-se do locomóvel, olhava o nivel da água e o manómetro, abria a torneira do apito.
Um alimentador subia a escada e postava-se junto do «batedor», ao mesmo tempo que puchava os oculos para os olhos e enfiavanos dedos  os protetores de lata; o manageiro do «rilheiro» subia ao cume da serra e atirava longe a bandeira do seguro; o da foice ficava frente do alimentador e os restantes ganhões distribuiam-se segundo as necessidades.


Então, o maquinista fazer calar o apito, abria a torneira de purga, puxava a alavanca e punha a maquina em movimento.
E pronto, era um «ar» quanto a «bicha» devorava os molhos, separando nas suas entranhas o «pão » e a «paloha».Tudo isto, como é evidente, faz parte de um passado já remoto.

Do llivro-MOTIVOS ALENTEJANOS de João Ribeirinho Leal Fotos Internete


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terça-feira, 5 de novembro de 2013

AS TABERNAS



                                            

                                          AS TABERNAS

Eram as tabernas ou tascas um dos pontos de encontro favoritos  dos rurais alentejanos.
Aí conversavam, bebiam uns copos, jogavam ao dominó, o chito, o burro e a bisca lambida e, até por vezes se embebedavam, sob o olhar discreto mas sempre atento do taberneiro.
Juntavam-se dois, três, quatro ou mais homens, mandavam encher um copo para cada um, bebiam-







no e um deles pagava a «rodada».Tinham que beber tantas rodadas quantos os do grupo, acabando, no fim de contas, por cada um pagar aquilo que bebia.
É assim o homem do Alentejo, simples e honesto, amigo de confraternizar. Nos dias das «sortes», quando os mancebos iam à inspecção para a vida militar, no regresso, e felizes por terem sido «apurados» iam em grupo, de taberna em taberna, acompanhados de um tocador de acordeon, festejar o acontecimento que os enchia de alegria.


Nas mãos, uns levavam e tocavam a «pandeireta» e outros os «ferrinhos»; na lapela do casaco, uma fita vermelha,sinal evidente de que iriam «à tropa» e, detràs da orelha, quase sempre, um ramo de mangerico,
Era para eles dia de grande festa e também para o taberneiro, pois alem de fazer muito mais negócio, sempre se divertia.
Os anos passaram, os costumes evoluiram , começaram a desaparecer as tabernas que deram lugar aos seus irmãos «mais finos»- os cafés.
Do livro:- MOTIVOS ALENTEJANOS de João Ribeirinho Leal
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UM AMIGO......................

UMA BOA CONVERSA......... E
UMA "RODADA PARA TODOS"

AS CEIFAS

 AS CEIFAS

Entramos em Junho....
O Sol «aperta» a campina alentejana e o verde tranquilo das searas mimosas já há muito desapareceu, dan do lugar ao amarela dourado das espigas em «acção» de ceifar.
Já chegaraam os «ratos» ou «ratinhos», anunciando no seu brado de vozes de timbre proprio e na sua indumentária «sui generis», que chegou a época de um dos trabalhos mais dificeis a que a agricultura obriga as humanas criaturas.
No ar, nem uma brisa de ar fresco,apenas o vento suão acicatando barbaramente os corpos dobrados dos ceifeiros., homens rijos a quem o sol tosta as carnes sem conseguir amolecer os espiritos.
É o virar duma página na vida dos campos.
Mulheres de todas as idades remendam a «copa» e falam da «acêfa».


Começa a azáfama das manageiras, rpimeiro contratando o pessoal e, depois,nele superintendendo.

Mas a segunda parte da missão, quase não é pior que a primeira.
Os lavradores oferecem «jornas» pequenas e o mulherio quer ganhar mais alguma coisa.
Na véspera do começo é grande a excitação que reina nos povoados e as lojas estão cheias de clientes,que levam fiado, prometendo pagar no fim da «empreitada».
Quando o relogio da torre , bate as 3 badaladas, todos acordam com alvoroço, ao mesmo tempo que a responsável pelo «rancho» vai de porta em porta chamar as outras mulheres.Dá pontapés e murros em portas e postigos, começando então a sair as camaradas.
«Desembaraçam-se dos xailes, tiram as bolsas da «merenda» e as foices que tinham à cabeça, iniciando o «cante», acompanhado de pandeiretas.
Ao chegarem à seara, descansam, sentam-se no chão, cada uma conversando para seu lado, numa autêntica algazarra, que só termina quando chega o guarda ou o feitor, portadores da ordem de «enregar».

Fazem os «calções», como nas mondas, enfiam as «braçadeiras»,poem nos dedos da mão esquerda os quatro canudos de cana,seguram ao «troço» ou «rolo» o chapéu preto enfeitado com papoilas ee espigas  e, à voz firme e autoritária do guarda, iniciam a refrega.

As mulheres iam ceifando, os  «atadores», de lenços de ramagens debaixo do chapeu,corriam de um lado para o outro a fazer os molhos.
À hora de almoço, sentavam-se à sombra das árvores vizinhas, desmanchavam os calções, tiravam o chapeu o lenço e as braçadeiras.
Seguia-se o abrir das bolsas e dos cabazes e o ingerir do pão e do conduto;poucos traziam refeição completa.
Era sempre assim até a hora de «soltar».

   (Do livro:-MOTIVOS ALENTEJANOS de João Ribeirinho Leal)      


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                                                                                                                                                                                                                          Na verdade , a ceifa é trabalho algo árduo e duro.É preciso ter boa têmpera, estar habituado a suportar o calor de brasa que cai do céu de chumbo para aguentar esse trabalho, essa luta heroica do homem com a terra.

Só quem ainda não viu, na maior calma, os ceifeiros, homens e mulheres( que as mulheres também estão afeitas  a estas duras lides)curvados sobre a terra, empunhando a foice                   na mão direita e com a esquerda agarrando os caules de espigas que uma mancheia pode abarcar, caules que corta de um golpe, o mais junto da terra possível, não sabe avaliar bem a natureza deste trabalho campestre.

Sente-se a luta no estalar dos caules e no roçar do trigo pelos corpos em movimento.
Atras, ao lado uns dos outros, abarcando 3 a 4 regos, la vão elees deitando por terra o trigo, enquanto outros,os atadores, vão apanhando os pequenos molhinhos que os ceifeiros deixam atras de si e formando com eles molhos grandes que atam com os proprios caules que eles tiram dos  molhos já atados e entrelaçam de modo especial junto das espigas.

(Fialho de Almeida in Os Ceifeiros in À Esquina)

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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

APANHA DA AZEITONA

                         APANHA DA AZEITONA





O  inverno.....

O frio faz-se sentir com intensidade e a chuva «cai a cântaros» como costuma dizer-se. Antes do sol aparecer no firmamento lembrando-nos que um novo dia começa, já o rancho vai a caminho do olival ou estacal,onde,pendentes dessas árvores cujos ramos nos recordam a paz, as azeitonas aguardam pacientemente a altura de serem colhidas, ripadas ou varejadas.
Geralmente só os «rendeiros» têm o habito de »avarejar», porque sendo esta uma operação que danifica a arvore, os proprietários a ela não recorre,

Antes do inicio da labuta o pessoal costuma aquecer-se com um lume feito com tábuas velhas ou ramos de oliveira, que as geadas e os frios são tão tamanhos que as mãos e os pés ficam enregelados, não permitindo assim que o trabalho seja convenientemente realizado.

E se chove muito, os homens abrigam-se com sacas pela cabeça e as mulheres fazem capas com velhos retalhos de plástico. Enquanto as segundas estendem os panos ou panaias, os primeiros vão buscar o varejão e as escadas e, todos a postos, começam com entusiasmo a sua obrigação, levando-a a cabo com muito mais empenho se o serviço é de «empreitada» Dá-se este nome ao trabalho que é pago segundo a produtividade do operário.



O serviço feito «à jorna» é sempre mais moroso,porque quanto mais dias de trabalho levar, tanto melhor.
À tardinha, é o guardar das escadas e das varas e a limpeza dos frutos. Para isto, colocam umas escadas deitadas ao comprido no solo e inclinadas por meio dumas pedras ou duns paus e sempre contra o vento.
Tapam-nas com um panal, de modo a que façam uma barreira e,lançando a azeitona para lá, por meio de uma pá, as folhas ,mais leves, caiem no chão e aazeitona vai-se acomulando ao esbarrar no «muro» erguido pelo homem.
Posto isto, é ensacada, carregada em burros ou carroças  e levada para o lagar.

(Do livro -Motivos Alentejanos de João Ribeirinho Leal)





terça-feira, 29 de outubro de 2013

AS MONDAS

                                                   




As mondas com toda a certeza era um dos trabalhos campesinos que eram feitos com mais alegria. Das aldeias, todas as manhãs(por vezes depois de se ouvir o toque do búzio,chamando à concentração) partiam grupos enormes de raparigas, saia rodada de xadrês miudinho,blusas de cores garradias,chapéu preto,redondo, de abas reviradas e enfeitado com vermelhas papoilas.
Faces rosadas e alegres, lábios sorrindo como que a desafiar as ervas que iam arrancar, ao chegarem à seara «faziam os calções», isto é, atavam as saias  junto ao joelho e, de sacho em punho e olhos de lince, um pé aqui,outro acolá, iam arrancando o «sizeirão», o «palanco», a«margaça», os «saramagos» etc.
A labuta não as cansava.
Saiam de casa cedo, a rir como se fossem para uma festa; levavam o dia a cantar ao desafio e, ao «soltarem», voltavam para casa ainda a rir e a cantar.     

Durante o trabalho falavam de tudo, de modas,de casamentos,do enxoval próprio ou do das filhas e conhecidas, do último «escandalo» da terra. 

Muitas da quadras cantadas por essas raparigas, hoje mães de filhos e avós de netos,continuam ainda de boca em boca, muitas vezes pela voz dos Ranchos Folclóricos, como expressão saudosista dos tempos de outrora.                                                       

Os tempos mudaram, surgiu a monda quimica e com ela desapareceu das searas essa nota de atraente policromia- a Mondadeira.

 (do livro Motivos Alentejanos de João Ribeirinho Leal)                     




quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A FAINA DAS SEMENTEIRAS




             A FAINA DAS SEMENTEIRAS  9/01/2013




Entre nuvens gordas e um véu de bruma,a Natureza chora à farta a sua solidão.
No centro do Inverno rural, quando os passaros descem doloridamente às herdades espreitando o recomeço das lavouras sem o calor guloso e bárbaro de um sol assassino, as argilas grossas e emproadas sorvem a últimas águas e dão ao viandante a realissima impressão de terem um imenso celeiro ao ar livre, implorando o respeito dos homens.
A blega é sangue e epopeia, e geme por entre as maldições dos temporais e enxurradas, o céu está escuro, e um pinheiro solitário grotescamente inclinado que daqui se vê, parece um vagabundo a pedir esmola de um rasgo de sol macio.


A terra Alentejana, nestes dias cinzentos de principios de Dezembro, à espera de ciclones alvacentoos ou de simples ventanias, todas as noites a vomitarem impressões, escorre do seu corpo  escalavrado uma humidade vermelha e pegajosa e os sulcos dos alquerves parecem arrepiar-se nas planuras solitárias, bem como os chaparros, de copas crispadas pelo reumatismo da estação. A terra Alentejana toma outro aspecto, tem outro brilho,desta vez mais baço, de um azul quase melindroso, doentio, esparramado de salpicos, pardos, que dão ao chão de urtigas e bolotas uma alma singular, na tortura do clima.
Pela manhã adiante, com o vento a uivar nos espaços medonhos, que ora se esconde nas ladeirinhas  dos outeiros ora se levanta como uma praga ártica,as parelhas seguem o caminho das "folhas»,carregadas de sacos de semente. As estradas são de macadame, de pedras aguçadas, cheias de covas descomunais, e os ganhões, têm de guiar cuidadosamente as alimárias pelas bermas para se não atascarem.

Nos longos, ou aqui mesmo ao pé de nós, as mãos rudes, encortiçadas de cieiro, dos rurais, manejam os atilhos de sacaria disposto pelos alpendres; as carroças paradas parecem esculturas em relevo, na acidez do tempo; as charruas no solo,são atreladas aos animais-e os sementeiros,, largas alcofas feita no género dos esteirões algarvios, vão ser carregados de grãozinhos preciosos e postos aos ombros dos camponeses presos a uma corda.
Vêem os arados e desenterram a bicharada nociva à agricultura, e as alvéolas, atrás e à frente dos bois e das parelhas,cumprem a sua missão domestica de saneadoras das grandes terras lavradas, perdidas até ao limite dos mundos, entre o céu e  terra de uma beleza biblica,chamusacados aqui e além de uma neblina descalça e de estonteante frieza.
Vêm ainda poisando, mais ao largo, bandos de cotovias, pintassilgos e tentilhões, companheiros da liberdade, entoando hinos de alegria, num anúncio da estação das sementes. O inverno risonho e ribaldeiro, acossado de lenhas fantasmais, entra no peito e nos olhos dos ganhões como um advento de esperança e de austeridade e está a principiaqr a sua obra necessária. É preciso semear para recolher sem parança, hora após hora, dia após dia, que não tardam a aparecer os grandes aguaceiros acompanhados de granizo.
Os homens, de quando em quando, falam com a solidão, olhando o firmamento e pairam a faina benfeitora, as mãos enregeladas, os olho0s violáceos, salpicados de lágrimas, tratando de acomodar melhor os apeiros ao corpo dos animais.


Mais longe, os semeadores, naquele gesto augusto que tanto os personifica, silenciosos como as ervas e puros como a névoa da manhã, vão espalhando as doiradas sementes pela humidade dda terra revolvida e perfumada e, quem se afirme bem a olhar a paisagem no coito de alguma cabana abandonada ou no alto de algum cerro vergastado de frio, há-de pensar que o campo alentejano  é um paraiso de bondade. Tudo está à mostra dir-lhe-à que a Natureza confia nos homens como nunca confiou em qualquer parte do mundo! 

Exactamente. Os lancis à mostra estão prontos, uma correnteza de regos que se perde no horizonte de bruma e o trigo, rei dos reis, soba silencioso das herdades, que se semeia nesta altura das águas novas, é lançado à terra, como um testemunho da eternidade: prece e dádiva, é mesmo assim a vida! Todavia, se o tempo for enxuto, o lavrador tem de pensar que a colheita não se  adivinha e que, portanto, mais vale semear a seco, antes que as enxurradas venham dificultar o grangeio da ganharia e encher de incertezas o próprio trabalho do semeador. Este , no entanto, continua a semear os bagos de cereal a lanço, numa cadência perfeita, norteada pelo embelgador, que ajeita a jangada com dedos certeiros e consoante os modos  de que a faina se reveste. As formigas e as nuvens de passarada vagabunda e turbulenta, pardais, tordos estorninhos, sabe-se lá a familia de pássaros daninhos e esturdios que lá nascem, aparecem à flor do solo, remendando a paisagem de vultos caricatos e angulosos, miniaturais.


Todas as estradas estão desertas. As de alcatrão desfilam, baçamente escorridas da água das chuvas, e nem um vulto se adivinha agora para lá dos campos desnoitados de pasmo. Sopra o vento norte, que enregela os ossos da malteagem. A meia hora de caminho, homens obscuros trabalham nos « montes» e o que fazem eles ? Arranjam os utensilios de lavoura, consertam potes de ferro, retalham azeitonas novas, e os abegões serram madeira de azinho, para dar acabamento aos carros que transportam as sementes e consertam rodas ou largos varões onde as muares se atrelam, varões e rodas escavacadas nalgum balanço dos carreiros de granito ou covas de fundura mal avaliada.
Para as bandas de um terreno coutado,ouvem-se tiros de caçadeiras aopressadas em doido morticinio de peças de caça. Ao rés de um talhão de courela,passa uma lebre, lépida e esbaforida e lá longe entre uma azinheira e um piornal, um perdigueiro vvem correndo, a ladrar. No céu, bem no fundo dos plainos, uma águia está descrevendo circulos no espaço grandes e rápidos, depois mais descaídos e curtos, a aproximar-se de um terreno de olival. Por certo que vai assassinar algum coelho novo perdido da toca, ou  perdiz zaranza, de olhitos fitos no infinito, cabecinha tonta levemente inclinada, como se estivesse gozando na mais estranha pachorra, os seus derradeiros minutos de vida.
Olham-se o horizonte azimbrado e julga-se ver a Espanha, mesmo por cima da nevoaça que a paisagem oferece à vista desarmada.O  semador já gastou quase meio dia a espalhar grãos de trigo na terra lavrada. Na terra sempre bendita do Alentejo.! De quando em vez, a alcofa fica vazia e o ganhão agacha-se, põe o chapeu, o lenço ou uma pedra no sitio em que parou a faina, a dar sinal. e vem novamente encher o sementeiro para continuar a obra, que o tempo não está de confiança e é preciso evitar, o mais possivel o periodo dos grandes lamaçais. E a tarde, aos poucos vem cobrindo o enorme plaino de uma vaga tristura, de um medo imaginário de horizontes roxos, de catacumba, parecendo que, por estes sitios tão avaros de verdura, se encontra o fim do mundo. Grita-se e ninguem acode.Canta-se e ninguem ouve. Chora-se, ri-se e ninguem, nem folha açoitada, nem ave diurna se descobrem neste momento de paz..É tudo ermos.Tudo pasmado.


Em coutadas ou pequenos declives lá se ouve, pum! pum-e a tarde vem entornando mais a sua capa capa protectora por sobre esta região desambicionada. Ninguem diz que esta solidão é um viveiro autêntico de produtos essenciais à vida humana. Ninguém diz nem acredita. E no entanto, só neste dia, os semeadores semearam para além de quinhentos hectares de terreno.
As noites que aí vêm são ácidas e velhas. Noites de serão montês, cheirando a serralhas e doidos alecrins, aparvoados  e entanguidas. O frio leva os ganhões a irem às «vendas» beber aguardente seca. Nos cantis dos semeadores, um ou outro patrão mais camarada, mandou deitar umam pinga de vinho novo em gosto de gratidão pelo feito abençoado do semeador. Os carros retornam aos «montes», esfumados na alegoria da noite plena, que não tarda a chegar, alagada de cacimba. E a terra vive ! E os homens cantam baixinho trovas perdidas, angustias desoladas, esperanças doridas, e nas lapasne nos terrenos que a distância guarda,  só o céu negrejado de estrelas e a brancura insólita de certas luzes misteriosas, sabem bem o que vai acontecer....Os grãos estão lançados à voragem da gleba criadora e hão-de frutificar na paz da Natureza.! Ó Alentejo menino, imaginação de eremidas e de desgraçados! Terra de poetas ,de semeadores, de cantigas e de pão, amanhã o Alentejo também vai dar frutos novos, mais carne,mel, azeite, lã e bolotas! As horas passam e as sementes, lá para o fim do mês, despontarão em verdura anã, dando a toda a gente a esperança de que um dia o Mundo será o esforço de um ano, de um século, transformado na paz mais bem feita que os homens souberam criar, uma terra irmã do Céu!
(artigo publicado no Almanaque Alentejano-1964 da autoria de Antunes da Silva)