AS CEIFAS
Entramos em Junho....
O Sol «aperta» a campina alentejana e o verde tranquilo das searas mimosas já há muito desapareceu, dan do lugar ao amarela dourado das espigas em «acção» de ceifar.
Já chegaraam os «ratos» ou «ratinhos», anunciando no seu brado de vozes de timbre proprio e na sua indumentária «sui generis», que chegou a época de um dos trabalhos mais dificeis a que a agricultura obriga as humanas criaturas.
No ar, nem uma brisa de ar fresco,apenas o vento suão acicatando barbaramente os corpos dobrados dos ceifeiros., homens rijos a quem o sol tosta as carnes sem conseguir amolecer os espiritos.
É o virar duma página na vida dos campos.
Mulheres de todas as idades remendam a «copa» e falam da «acêfa».
Começa a azáfama das manageiras, rpimeiro contratando o pessoal e, depois,nele superintendendo.
Mas a segunda parte da missão, quase não é pior que a primeira.
Os lavradores oferecem «jornas» pequenas e o mulherio quer ganhar mais alguma coisa.
Na véspera do começo é grande a excitação que reina nos povoados e as lojas estão cheias de clientes,que levam fiado, prometendo pagar no fim da «empreitada».
Quando o relogio da torre , bate as 3 badaladas, todos acordam com alvoroço, ao mesmo tempo que a responsável pelo «rancho» vai de porta em porta chamar as outras mulheres.Dá pontapés e murros em portas e postigos, começando então a sair as camaradas.
«Desembaraçam-se dos xailes, tiram as bolsas da «merenda» e as foices que tinham à cabeça, iniciando o «cante», acompanhado de pandeiretas.
Ao chegarem à seara, descansam, sentam-se no chão, cada uma conversando para seu lado, numa autêntica algazarra, que só termina quando chega o guarda ou o feitor, portadores da ordem de «enregar».
Fazem os «calções», como nas mondas, enfiam as «braçadeiras»,poem nos dedos da mão esquerda os quatro canudos de cana,seguram ao «troço» ou «rolo» o chapéu preto enfeitado com papoilas ee espigas e, à voz firme e autoritária do guarda, iniciam a refrega.
As mulheres iam ceifando, os «atadores», de lenços de ramagens debaixo do chapeu,corriam de um lado para o outro a fazer os molhos.
À hora de almoço, sentavam-se à sombra das árvores vizinhas, desmanchavam os calções, tiravam o chapeu o lenço e as braçadeiras.
Seguia-se o abrir das bolsas e dos cabazes e o ingerir do pão e do conduto;poucos traziam refeição completa.
Era sempre assim até a hora de «soltar».
(Do livro:-MOTIVOS ALENTEJANOS de João Ribeirinho Leal)
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Na verdade , a ceifa é trabalho algo árduo e duro.É preciso ter boa têmpera, estar habituado a suportar o calor de brasa que cai do céu de chumbo para aguentar esse trabalho, essa luta heroica do homem com a terra.
Só quem ainda não viu, na maior calma, os ceifeiros, homens e mulheres( que as mulheres também estão afeitas a estas duras lides)curvados sobre a terra, empunhando a foice na mão direita e com a esquerda agarrando os caules de espigas que uma mancheia pode abarcar, caules que corta de um golpe, o mais junto da terra possível, não sabe avaliar bem a natureza deste trabalho campestre.
Sente-se a luta no estalar dos caules e no roçar do trigo pelos corpos em movimento.
Atras, ao lado uns dos outros, abarcando 3 a 4 regos, la vão elees deitando por terra o trigo, enquanto outros,os atadores, vão apanhando os pequenos molhinhos que os ceifeiros deixam atras de si e formando com eles molhos grandes que atam com os proprios caules que eles tiram dos molhos já atados e entrelaçam de modo especial junto das espigas.
(Fialho de Almeida in Os Ceifeiros in À Esquina)
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